Alguns pacientes, mesmo apresentando doença neoplásica avançada e metastática, necessitam de procedimentos cirúrgicos paliativos. Essas intervenções visam melhorar a qualidade de vida, principalmente quando os tumores acometem regiões anatômicas que comprometem funções essenciais, como a micção e a evacuação. Foi atendida no hospital veterinário uma cadela Pit Bull, branca, castrada, com 11 anos de idade, encaminhada para avaliação oncológica já apresentando múltiplas lesões neoplásicas. Na consulta inicial, a paciente mostrava desconforto ao deitar-se, constipação, disúria e apetite seletivo. O tutor relatou o aparecimento inicial de um nódulo no membro pélvico esquerdo, há cerca de cinco meses, que apresentou crescimento rápido, atingindo 4,4 cm. No entanto, no estadiamento, a ultrassonografia evidenciou uma massa abdominal medindo 9,44 x 9,18 cm, de contornos localizada na região caudal da vesícula urinária, comprimindo a mesma. Além disso, identificaram-se múltiplas formações arredondadas no baço, variando entre 1 e 1,8 cm. A tomografia computadorizada confirmou a presença da neoplasia intra-abdominal, com dimensões aproximadas de 9 x 9 x 6,5 cm, com provável aderência à bexiga urinária, além de revelar um nódulo pulmonar sugestivo de metástase. Apesar das lesões, a paciente apresentava-se ativa e com exames hematológicos dentro da normalidade. Diante do quadro, foi indicado procedimento cirúrgico paliativo com o objetivo de remover a massa abdominal e promover alívio dos sinais clínicos de disúria e constipação. Foi realizada celiotomia exploratória retroumbilical. Durante o procedimento, identificou-se a neoplasia ocupando a porção hipogástrica dorsal, aderida firmemente à face dorsal da bexiga urinária. As aderências comprometiam apenas a serosa e parte da camada muscular vesical. Os ureteres foram identificados, isolados e preservados durante toda a dissecção. A liberação da massa foi conduzida cuidadosamente permitindo remoção progressiva da neoplasia sem lesão do trígono vesical. Observou-se também aderência parcial à uretra, sendo possível ressecar o tumor incluindo um segmento superficial da serosa e da muscular da bexiga, mantendo a patência uretral. Após a remoção da massa, foi realizada inspeção minuciosa da cavidade abdominal, que evidenciou múltiplos nódulos de aspecto neoplásico no omento, os quais foram retirados juntamente com o baço por meio de esplenectomia. O procedimento transcorreu sem intercorrências e a paciente despertou em boas condições. Permaneceu internada e apresentou melhora do quadro clínico. O histopatológico confirmou Hemangiossarcoma em todas as amostras. A paciente foi encaminhada à oncologia clínica para seguimento paliativo e cuidados de suporte. Após quatro semanas do procedimento, a cadela apresentou quadro agudo de hemoabdômen e evoluiu a óbito. Embora a cirurgia não altere o prognóstico do hemangiossarcoma, pode ser indicada de forma paliativa para remover massas que provoquem compressão de órgãos e dor intensa, como ocorreu neste caso. A intervenção cirúrgica permitiu melhora temporária dos sinais clínicos e da qualidade de vida, apesar da evolução desfavorável. Conclui-se que a cirurgia paliativa pode ser uma opção viável em pacientes com hemangiossarcoma avançado quando as massas neoplásicas acarretam dor e comprometimento funcional significativo. O presente caso evidencia a importância de planejamento individualizado e acompanhamento rigoroso, considerando o risco elevado de complicações, incluindo hemorragias espontâneas e recidiva rápida.